segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O forjador de borboletas

Abandonou aquela antiga expressão de sonhador risonho e lírico.

Pintou no rosto uma boca triste.

Quem sabe assim não estaria agora livre?

Tantas vezes a canção da vida lhe feriu os tímpanos, os sorrisos, os sussurros, até mesmo o amor...

Queria apenas paz! Chegou a dizer isso aos seus amigos.

A paz transformada em borboletas de papel, azuis, vermelhas, amarelas, todas chegariam até o céu. Anelava -lhes entre os dedos, emprestava -lhes ao vento amigo, antigo... Tão antigo quanto os nomes e telefones.

Do desejo herdou o gosto de metal na boca , a dor fazia-o urrar como um animal.
A remota ideia de que a dor lhe fosse eterna, arredondava -lhe as palavras, que sangravam a ermo, sem sujeito e sem ação.
Ah! Mas como o céu está bonito...
Esse vai e vem ritmado de lembranças, misturando tudo, fazendo tudo ficar desequilibrado, como fazem as borboletas lá no céu, quando perdem o impulso de voar...
Mágicas e pacíficas tesouras que ferem o papel, mas acalmam o forjador de borboletas.

Janaina Cruz

terça-feira, 22 de novembro de 2011

As coisas quando somem

São engraçadas todas coisas quando somem

Um certo par de brinco que deixou o outro sozinho

O desconhecido que sorria sem ter nome

Aquela blusa branca e rosa de lacinho

Um disco antigo de vinil empoeirado

Um massageador que nunca usava importado

O documentário sobre o lixão do Marcos Prado

Um celular desmantelado, um caderninho enfeitado

As margaridas do jardim da minha tia

Aquele beijo que em sonho me pedias

O nervosismo, o manifesto a agonia...

A lembrança me sorria e, sorrir assim me entristecia...

Janaina Cruz


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Uma canção para Clara

Clara, doce menina, a vida te fez filha e eu fiquei muito contente

Sorria Clara sorria...

Coloque estralas nas varinhas de condão

Perceba as folhas que dançam na ventania

São borboleta que quando cessa vão ao chão

Quando o peso do viver te magoar de imediato

E a alegria do presente

Se esconder em teu passado

Saiba que a vida pode ser bem mais contente

Quando o dia se sentar no pé da serra

E com um beijo acordar verdes campinas

A poesia colorir o que há na terra

Improvisando o invisível das esquinas

Abater silêncios que dormiam nas janela

E tudo isso é para ti minha menina...

Janaina Cruz


terça-feira, 15 de novembro de 2011

Pétalas

Meu amor, meu presente...

As buzinas dos carros atrapalham a musicalidade dos passos dos transeuntes, mas o passeio não se torna desagradável, esqueci de pentear os meus cabelos, e ainda assim sinto-me erótica.

Há frases de revolta pelos muros da cidade, e uma balada de amor vazando de alguma janela.

Meu pensamento volta a alguns instantes atrás , no momento em que abria a porta de nossa casa, e vi corações por todos os lados, declarações de amor, derramadas pela mesa, pelas cadeiras, na luz dos teu olhos,em tua mão forte, delicadamente cruzada na minha... Senti tanta paz no calor de tuas mãos...

Como num passo de dança rodopiou-me, colocando-me de frente pra ti... Beijou-me, beijou-me com um beijo de tirar o fôlego, deitou-me em nossa cama cheia de pétalas... Pétalas que escolhestes tão cuidadosamente...

O cheiro de rosas vermelhas misturaram-se ao teu em meu corpo...

Agora levo-te comigo enquanto tenho que sair, e meu corpo ainda treme imaginando tuas mãos, teus movimentos, toda tua voracidade quase juvenil... Um sorriso escapa aos meus lábios e só agora percebo que todo meu passado foi levado embora, quem fui já nem sei mais, sinceramente já não me importo!!! Eu só quero ser tua, tua e de mais ninguém...

Janaina Cruz

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A menina e a raposa

(Menina) Querida raposa sob que auspício subjaz o amor e a vontade?
(Raposa) Doce menina o amor é uma sensação quente parecida com o fogo que aquece e espanta as trevas. Tão forte que tudo consome, tão frágil que uma lágrima é capaz de apagá-lo.
(Menina) Então foi isso! Ontem chorei, chorei como se fosse chuva, oscilei como se fosse vento, não consegui sentir o sol...
(Raposa) Pobre menina, agora hás de ficar mais esperta. O amor é também lenha, as vezes guarda brasas que as chuvas não conseguem enxergar. Não temas a escuridão, nada é completamente teu, nem essa escuridão que te faz tatear como um cego, nem esse amor que te consome, e tudo é teu no momento em que imaginas que estejam em tuas mãos. Enquanto dormes tanto o amor quanto a escuridão, tornam-se andarilhos, escorrendo pelo silêncio de tudo o que nunca dizes...

Então a menina corre, deixando para trás a raposa e suas fabulosas palavras, entregando as, conselhos e os olhos da raposa ao universo pagão.

Janaina Cruz

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Tomates verdes e carvão

A dor passou, passaram também meus jovens anos.
Juntei todas as esperanças uma a uma, para jogá-las fora, todas perderam a validade.
Deito-me no frio chão que me acomoda como são acomodadas raizes de lírios ignóbeis.
Meus olhos despem-se da usura normal, a certeza tem deixado de ser pálida e mal acordada.
O entardecer da vida como o sol que se põem para nos despertar para a beleza das primeiras estrelas, o antes e o depois da fé.
Quando se descobre todos os significados já se faz tempo de partir

Janaina Cruz

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Guarda Chuva


Bellíssima fotografia encontrada no site: (http://liquidnight.tumblr.com/)

As vezes olho para o tempo e advinho: Hoje acho que vai chover!
Ou tanto faz...
Esse frio que transpõem a minha janela é a saudade, esse sentimento que cresce e deixa meu mundo mais triste, e na boca um mau gosto.
Um juízo final vagaroso.
As cores parecem morrer...
Talvez sinta mendo, talvez só seja dor...
Esqueço a caneta sobre o papel, a minha mão sobre a caneta e o meu olhar sobre um retrato quase antigo.

Janaina Cruz

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