Era
pelo avesso que mais gostavas das coisas.
Arrancavas as asas das formigas, pois sabias que ia chover, sempre sabias!
A
chuva tornava mais linda a flor de urucum, e com ela tu pintavas os cabelos e
os lábios, dizendo-me entre sorrisos que não era pra temer nada...
O
meu silêncio permanecia, um silêncio de estátuas, de mortos, o som vital que
entrava pelos cômodos da casa vinha de outros lugares, sirenes e vozes
desconhecidas...eu me distraia enquanto injetavas em mim os teus venenos,
entravas em mim, em minha corrente sanguínea, desmistificando os meus limites,
virando a minha alma pelo avesso, meus silêncios, meus medos...
Instalou-se
em meus lugares escuros e nebulosos...
Eu posso te ouvir...
Sim, posso te ouvir...
Eu ouço a chuva...
Eu posso te ouvir...
Sim, posso te ouvir...
Eu ouço a chuva...
Janaina
Cruz