sexta-feira, 17 de maio de 2013

O último suspiro, ganhador do Prêmio Luso- brasileiro Melhores Contistas de 2013.




Tentei vencer toda essa escuridão que me deixastes
Acendendo o fósforo,
Mas aí surgia um novo medo:
Que a pequena chama apagasse.
E voltasse a memória anterior de uma não existência…
Filhos que são criados sem pais amadurecem observando
Outras vidas, imitando gestos, desvendando segredos.
As vezes me confundi com a história de outros, sem saber
se era a minha voz que falava ou se apenas ouvia.
Meu coração ainda estava inquieto, eu não consegui te traduzir
Imaginei que fosse amor, as pedras que me prendias ao pescoço
E afundava graciosamente a espera de tua mão ajudadora
Mas tua mão nunca quis me salva, quando tu impunhas teu braço na água. 
Era pra afundar-me… Ainda mais…
E salvar a ti.
Quase cai em sono profundo quando as lembranças das dívidas me despertaram.
E já não tinha mais fósforos, acabaram-se todos.
Inexistência obtusa!
Vaguei olhos na escuridão ao meu redor
Lembrei que no telhado havia uma pequena fenda
Por onde a luz da lua costumava entrar
Acontece que essa noite chove
Os figos logo amadurecerão expostos a beira da estrada
E quase serro  novamente as pálpebras
Quando escuto uma voz no meio do escuro.
Um homem muito grande a minha frente
Olhos e cabelos vermelhos como fogo…
Suas mãos são enormes, porém são frias
Frias como o vento que traz a chuva...
Ele diz: “Você tem uma nova chance!”
E meus olhos começam a ver paredes caiadas
Uma menininha de cabelos longos a sorrir
Ela viu nascer uma manhã leitosa
E estava salva do crepúsculo, lúcida, infinita…
E eu também sorri…
O homem de fogo também sorriu cheio de infância
Estávamos em sinestesia
Deu-me um abraço, olhou nitidamente em meus olhos
Fez amor comigo, como nunca antes fiz
Senti ainda seus dedos emaranhando-se entre os meus cabelos
Enquanto morria cálida, lívida e lentamente.

Janaina Cruz


quarta-feira, 1 de maio de 2013

Heliotropia meu 3º livro de poesia




Tudo está preso ao sol, a sua delicia amarela, as cores que geometricamente deitam-se sobre tudo o que é vivo, o dia como um operário entrega-se ao trabalho confidente da luz, linhas cartesianas movedoras de zodíacos matinais e vespertinos. A lei da gravidade desmentindo auroras, sentença profana por onde serpentearão as mais brilhantes estrelas. O dia se esvai pelo útero da noite, pelas anáguas das horas diminuindo o ritmo, tornando sonífera e leitosa toda e qualquer cor. Como um colecionador de mortes e vidas, logo ele ressurge dissolvendo o negrume, fazendo tudo girar novamente.


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