sexta-feira, 5 de julho de 2013

Preto e Menininha


Preto era seu apelido, mas na realidade tratava-se de um mulato de nariz afilado e boca carnuda de onde notava-se um desfilar de dentes fortes e perfeitos.
Não era forte apenas nos dentes de um branco incandescente, Preto era todo forte, seus braços eram longos e agarravam longe o que quer que lhe fugisse ou corresse, tinha uma força estranhamente surreal, principalmente no olhar meio de lado, meio canibal...
Preto desfilava pelas ruas da cidade com seu sorriso matreiro a tez novinha, disfarçada por uma charmosíssima barba por fazer e uma penugem negra logo a baixo do lábio, lábios ardentes, lábios diabolicamente viciantes.
Preto e suas pujanças, preto e suas ideias... Preto, Preto, Preto ardente e sensual, Preto e seu sexo descomunal, corria a boca pequena que Preto de ninguém tinha pena, quando pegava, montava, adentrava, sugava, batia, comia, gemia e coisa e tal.
Quando Preto passava, ninguém segurava o mulheril que se assanhava, molhava, enlouquecia, ardiam, tentavam chamar atenção... Nas portas de suas casas faziam mil poses, olhares, assobios, e Preto mal olhava, fazia sempre uma cara de mal, e isso era o que mais instigava e enlouquecia.
Jurema toda assanhada certa vez de sua janela, esperou que Preto passasse e do tomara que caia exibiu suas tetas, tetas fabulosas, redondas, enormes macias... Preto sorriu com o canto dos lábios, aquele sorriso sedutor e atrevido, passou-lhe as mãos pelas tetas, deixando Jurema toda arrepiada, doidinha pra lhe ceder o que quer que pedisse, mas acontece que Preto era muito peralta, excitou, excitou a pobre viúva e saiu sem lhe dar mais nada...
Ela fula da raiva lhe rogava pragas mil, mas logo arrependia-se, queria-o entre braços, abraços, beijos e pernas, queria farta-se de calor, loucuras e sexo...
Escorregadio, cuidadoso não havia quem prendesse o mulato, nem beleza ou sexo, velas coloridas, feitiços ou simpatias, Preto era de todas, Preto não era de ninguém, acalentava as mais velhas, as mais novinhas também, enfeitiçava-as, chamava-as de minhas donas, deitava em suas camas, em suas redes em qualquer lugar e depois de lívidas e lépidas, sumia como se fosse inteiro feito de mágicas.
Preto era como são os gatos, caem sempre de pé, somem no meio da noite, nos becos das ruas, pelas janelas ou coisa qualquer...
Acontece que tudo tem um destino acredite se quiser, Preto garboso, Preto gostoso, Preto da rua, Preto de todas, deu pra cair de amores certo dia, ficou minguado, aguado, ressequido, por causa de uma paixão sem sentido.
Menininha era o seu apelido, mais menina que mulher, de calças largas pés sujo de chão, mais certezas que ilusão, diferente de tudo o que tinha visto.
Não lhe deu atenção, não apertou sua mão, nem um olhar se quer...
Preto todo ressabiado, num não entender-se danado, foi lhe tirar satisfação, e foi um quiproquó dos diabos, pois além de distraída Menininha era faixa preta, era destemida, metida a brigar com que lhe surgisse pela frente, era uma agarra, agarra, ninguém entendia nada, era Preto toda hora no chão... Preto pisado, Preto maltratado, Preto ferido no coração, mas não pelas porradas, nem pelas articulices de Menininha, Preto estava fisgado, apaixonado, abobalhado, por aquele ser de cabelos cumpridos, pele clara, meio sem sal ou sem graça, mas um poço de coisas por descobrir.
Preto bateu no chão, exausto de tentar não se machucar e feliz por ter aqueles braços pequenos, apertando o seu corpo, rodo piando-o pelo chão, pelas ladeiras que desciam até a Consolação.
A roda formada por fora, pessoas fazendo apostas, as moças desesperadas:
- Não machuque Preto, ele é nosso tesouro!
E os homens sentindo-se vingados por causa das peraltices de Preto, querendo ver a raça do mulato acabada, naquela ladeira, naquelas calçadas.
E Menininha acabou seu protesto, deixando-o caído em qualquer lugar, bateu mão contra mão, limpando o suor e o cansaço e seguiu seu caminho, subindo beco e descendo beco, sem nenhum olhar para trás.
Arrodeado de moças, senhoras e moleques atrevidos, Preto tentava levantar, eram tantas as mãos que o apoiavam que fica difícil aceitar, juntou as forças que restavam, levantou do chão cantando poeira, foi ao boteco de seu Nazaré, e pediu que pendurasse na conta toda cachaça que existisse no lugar, pois ele queria sair de lá com as pernas bambas, e a língua dormente, sem lembra-se até mesmo de seu verdadeiro nome.
Mas que cachaça era capaz de fazer Preto sucumbi? Ele lembrava a todo instante, do furdunço da pequena brilhante, que ninguém sabia quem era, de onde vinha ou para onde pretendia ir.
- Preto, Preto, dizia-lhe Jurandi, essa moça tem estradas nos olhos, logo, logo some daqui...
Passou-se dia, semana até mesmo o mês do frio passou, as fogueiras ardiam, o vento assobiava no telhada, e Preto descaia, não era mais o mesmo, nem as brechas da saia de Jandira, nem as fartas tetas de Jurema, nem o sexo quente com Pequena, faziam-lhe mais graça alguma.
-Quero Menininha seu Ló, só Menininha é meu querer o meu xodó...
Ele procurava, perguntava por ela, mas ninguém sabia dizer quase nada, até que um dia lá pelas beiras da tarde, no tempo que o sol já quase não arde, Preto encaminhou para uma parte da praia que era deserta, uma restinga, um restinho de mar, de conchas e areias brancas, quase ninguém anda por lá, pois dizem que tem coisa estranha, algo de assombrado até, aparece peixe por lá peixe de três nadadeiras, dizem até que peixe de pé, volta e meia aparece serpente, colorida, monocromata e até jacaré...
O que Preto viu foi a tal Menininha, nuazinha em pelo, deitada na areia, aparando os últimos raios de sol, com seus seios durinhos, redondinhos rosadinhos, sentiu vontade de tocá-los, mordiscá-los, suga-los lambe-los, tudo junto e ao mesmo tempo...
Preto começou a crescer onde mais sabia, ao vê-la virar-se, deixando a mostra seus glúteos fartos e fortes, então ele tocou-se, latejou, cresceu ainda mais, ficou louco voraz, afoito...
Menininha estava meio tonta, por causa do mar e da aguardente com quem tinha passado a tarde, quando notou que estava sendo olhada, tentou levantar e cobrir-se, mas não encontrou nada, o vento carregou para longe sua roupa e a sua bolsa não alcançava.
Percebendo o aperreio da menina, Preto se compadeceu, guardou o seu membro, agora quase desfalecido, correu a trás do vestido que o vento levava pra junto do mar.
Levo-o até Menininha que já começava a se desesperar, envolveu-a entre vestido e abraços, seu corpo ofertou para amparar.
Ela muito agradecida, pediu desculpas e chorou, até hoje não se sabe ao certo, se foi por medo ou se já era amor.
O que até hoje se fala pelos rastros daquela cidade, é que parecia terremoto, maremoto, algo de nuclear, os dois caminharam juntos para a pequena pousada e foi tão grande a suada, eram tantos os ouvidos na parede, era sussurro era sede, eram garras na carne, era amor, paixão, coisa que arde, coisa que nasce não se sabe o porquê e depois não sabe morrer, aconteça o que tiver de acontecer.
Preto e Menininha, não se apartavam mais de jeito algum, fuderam e fundiram-se, transformaram-se em um só, um ser maravilhado e maravilhoso descendo a pé pelas mesmas ladeiras, sorrindo jocoso como nunca se vil, deixando todo o povo com água na boca, dizem que essa história se passou no Brasil, quem viu, viu... Quem não viu sonha e deseja é coisa de luz e sentimento, coisa que ninguém sabe explicar.

Janaina Cruz

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