sexta-feira, 7 de março de 2025


As delícias

 

Tem poemas que nem sei como devo começar, a lógica começa a afastar-se de forma cadenciada, coagulando qualquer sentido ou foco. Foco em coisas em pares. Pequenas palavras par em par, desbravando uma gravidade tão intensa... alcançando plenitudes de versos, que gravitam por paragens púrpuras, acesas no meu batom.

O batom que ecoa pelo teu corpo tão intenso e luminoso, fazendo um sol escorregar pelo teu peito de rituais codificados com linguagens cruas. Provo-te cru, dos pés à cabeça, deitado na cama, encostado na parede... cutuco as tuas coxas mornas entusiasmadas.

Atiço o teu sexo, tua loucura vocabular capaz de fazer levitarem montanhas imprevistas. Sussurro em teus ouvidos as frases de profecias eróticas e aromáticas... Tua boca reverberando em minha anágua, o despertar do teu almíscar incendiando a cena, pondo fogo em meus lençóis de maresia e amaciante.

  Janaina Cruz

 

 


sábado, 5 de novembro de 2016


Estou parada no escuro
O breu torna insensível por completo o meu tato
E os outros sentidos também...
Há um dueto acontecendo entre a minha mente e a chuva ruidosa.
Já estávamos perdidos,
Senti todas as fases do fim.
O fim é a única coisa real!
O peso e a dor  nos ajudam a desabotoar as fantasias.
Perguntei naquele tempo a mim mesma 
Seria capaz de suportar aquela dor?
E fiquei surpresa com todas as dores que pude suportar,
A dor que mais doeu foi a dor do meu nascimento,
E as  dores dos partos dos meninos que arrancavam as asas das borboletas...
Odiava quando teus pés impacientes batiam nos meus em madrugadas frias.
Débeis horas insones, dois tragando solidões e desesperanças frívolas...
Agora só a mão da escuridão toca a minha pele, calando o meu corpo, vívidos estão apenas o instante, a mente e a chuva ruidosa,
Mas logo hão de cessar para sempre...

Janaina Cruz

terça-feira, 17 de maio de 2016

Curvas


Em teus braços, borboletas mortas.
Agudas cores cortadas ao meio
És vermelha...
Asas crestadas
Tremulas mãos...
A luminosidade dos meus olhos
Perdem-se em tuas curvas,
Em tuas coxas...

Janaina Cruz

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

A tarde


A tarde implantou em mim
Tua saudade!
Ânsia
Saudade
Saudade
Ânsia
Combinei com o tempo,
Joguei com o tempo
Como num tabuleiro,
Casa sim,
Casa não,
Que o acaso me traga você
E por acaso,
Tu habites a minha órbita,
E que o amor, como no cinema,
Transforme tudo em um final feliz!


Janaina Cruz

sexta-feira, 30 de outubro de 2015


Era pelo avesso que mais gostavas das coisas.
Arrancavas as asas das formigas, pois sabias que ia chover, sempre sabias!
A chuva tornava mais linda a flor de urucum, e com ela tu pintavas os cabelos e os lábios, dizendo-me entre sorrisos que não era pra temer nada...
O meu silêncio permanecia, um silêncio de estátuas, de mortos, o som vital que entrava pelos cômodos da casa vinha de outros lugares, sirenes e vozes desconhecidas...eu me distraia enquanto injetavas em mim os teus venenos, entravas em mim, em minha corrente sanguínea, desmistificando os meus limites, virando a minha alma pelo avesso, meus silêncios, meus medos...
Instalou-se em meus lugares escuros e nebulosos...
Eu posso te ouvir...
Sim, posso te ouvir...
Eu ouço a chuva...
Janaina Cruz

domingo, 2 de agosto de 2015

Adeus



Ah, mas era muito tarde,
O relógio havia me enganado mais uma vez,
A culpa era mesmo minha, vivia deixando tudo pra depois
O conserto do relógio inclusive.
Pela pequena fresta aberta na porta
Vi luzes e silhuetas,
Talvez fosse você
O mesmo corpo longilíneo,
Os cabelos curtos no mesmo corte,
Mas o andar mais cansado do que de costume,
Talvez mordesse os lábios na tentativa de disfarçar o humor,
Talvez quisesse arrancar a minha alma a dentadas...
Dei meia volta, meus passos ecoavam pela rua,
Rua tão acostumada aos passos meus que não era difícil identificar as erosões causadas por minhas idas e vindas.
Sob este mesmo cenário eu a esperei tantas vezes
Olhos pregados no relógio que sempre me enganou,
Mas a culpa era minha, pois teimava em deixar tudo pra depois
Inclusive o adeus...

Janaina Cruz

sábado, 6 de junho de 2015

Lua


Antiguíssimas raízes

E folhas de vidro,
Música ao longe,.
Longos cabelos da manhã leitosa...
E tu ainda imperativa no céu
Levas os pássaros nas mãos de maré
Oh, Lua, lua alada, lua cor de prata,
Multiplicas os mistérios da vida...
Segui-la-ei ao longo dos espaços
E que nos espasmos de meus pés,
Façam-se caminhos...
E no sibilar das palavras
As mãos do conforto me confortem,
E que toda sorte seja plena.
Sob o céu viajas, entre os dedos ternos da noite,
Entre os braços do mar
Onde em maré alta, as ondas sobem para beijá-la.
Oh, Lua, lua, alada, lua cor de prata.

Janaina Cruz
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