Preto era seu apelido, mas na
realidade tratava-se de um mulato de nariz afilado e boca carnuda de onde
notava-se um desfilar de dentes fortes e perfeitos.
Não era forte apenas nos dentes
de um branco incandescente, Preto era todo forte, seus braços eram longos e
agarravam longe o que quer que lhe fugisse ou corresse, tinha uma força
estranhamente surreal, principalmente no olhar meio de lado, meio canibal...
Preto desfilava pelas ruas da
cidade com seu sorriso matreiro a tez novinha, disfarçada por uma charmosíssima
barba por fazer e uma penugem negra logo a baixo do lábio, lábios ardentes,
lábios diabolicamente viciantes.
Preto e suas pujanças, preto e
suas ideias... Preto, Preto, Preto ardente e sensual, Preto e seu sexo
descomunal, corria a boca pequena que Preto de ninguém tinha pena, quando
pegava, montava, adentrava, sugava, batia, comia, gemia e coisa e tal.
Quando Preto passava, ninguém
segurava o mulheril que se assanhava, molhava, enlouquecia, ardiam, tentavam
chamar atenção... Nas portas de suas casas faziam mil poses, olhares, assobios,
e Preto mal olhava, fazia sempre uma cara de mal, e isso era o que mais
instigava e enlouquecia.
Jurema toda assanhada certa vez
de sua janela, esperou que Preto passasse e do tomara que caia exibiu suas
tetas, tetas fabulosas, redondas, enormes macias... Preto sorriu com o canto
dos lábios, aquele sorriso sedutor e atrevido, passou-lhe as mãos pelas tetas,
deixando Jurema toda arrepiada, doidinha pra lhe ceder o que quer que pedisse,
mas acontece que Preto era muito peralta, excitou, excitou a pobre viúva e saiu
sem lhe dar mais nada...
Ela fula da raiva lhe rogava
pragas mil, mas logo arrependia-se, queria-o entre braços, abraços, beijos e
pernas, queria farta-se de calor, loucuras e sexo...
Escorregadio, cuidadoso não havia
quem prendesse o mulato, nem beleza ou sexo, velas coloridas, feitiços ou
simpatias, Preto era de todas, Preto não era de ninguém, acalentava as mais
velhas, as mais novinhas também, enfeitiçava-as, chamava-as de minhas donas,
deitava em suas camas, em suas redes em qualquer lugar e depois de lívidas e
lépidas, sumia como se fosse inteiro feito de mágicas.
Preto era como são os gatos, caem
sempre de pé, somem no meio da noite, nos becos das ruas, pelas janelas ou
coisa qualquer...
Acontece que tudo tem um destino
acredite se quiser, Preto garboso, Preto gostoso, Preto da rua, Preto de todas,
deu pra cair de amores certo dia, ficou minguado, aguado, ressequido, por causa
de uma paixão sem sentido.
Menininha era o seu apelido, mais
menina que mulher, de calças largas pés sujo de chão, mais certezas que ilusão,
diferente de tudo o que tinha visto.
Não lhe deu atenção, não apertou
sua mão, nem um olhar se quer...
Preto todo ressabiado, num não
entender-se danado, foi lhe tirar satisfação, e foi um quiproquó dos diabos,
pois além de distraída Menininha era faixa preta, era destemida, metida a
brigar com que lhe surgisse pela frente, era uma agarra, agarra, ninguém entendia
nada, era Preto toda hora no chão... Preto pisado, Preto maltratado, Preto
ferido no coração, mas não pelas porradas, nem pelas articulices de Menininha,
Preto estava fisgado, apaixonado, abobalhado, por aquele ser de cabelos
cumpridos, pele clara, meio sem sal ou sem graça, mas um poço de coisas por
descobrir.
Preto bateu no chão, exausto de
tentar não se machucar e feliz por ter aqueles braços pequenos, apertando o seu
corpo, rodo piando-o pelo chão, pelas ladeiras que desciam até a Consolação.
A roda formada por fora, pessoas
fazendo apostas, as moças desesperadas:
- Não machuque Preto, ele é nosso
tesouro!
E os homens sentindo-se vingados
por causa das peraltices de Preto, querendo ver a raça do mulato acabada, naquela
ladeira, naquelas calçadas.
E Menininha acabou seu protesto,
deixando-o caído em qualquer lugar, bateu mão contra mão, limpando o suor e o
cansaço e seguiu seu caminho, subindo beco e descendo beco, sem nenhum olhar
para trás.
Arrodeado de moças, senhoras e
moleques atrevidos, Preto tentava levantar, eram tantas as mãos que o apoiavam
que fica difícil aceitar, juntou as forças que restavam, levantou do chão
cantando poeira, foi ao boteco de seu Nazaré, e pediu que pendurasse na conta
toda cachaça que existisse no lugar, pois ele queria sair de lá com as pernas
bambas, e a língua dormente, sem lembra-se até mesmo de seu verdadeiro nome.
Mas que cachaça era capaz de
fazer Preto sucumbi? Ele lembrava a todo instante, do furdunço da pequena
brilhante, que ninguém sabia quem era, de onde vinha ou para onde pretendia ir.
- Preto, Preto, dizia-lhe
Jurandi, essa moça tem estradas nos olhos, logo, logo some daqui...
Passou-se dia, semana até mesmo o
mês do frio passou, as fogueiras ardiam, o vento assobiava no telhada, e Preto
descaia, não era mais o mesmo, nem as brechas da saia de Jandira, nem as fartas
tetas de Jurema, nem o sexo quente com Pequena, faziam-lhe mais graça alguma.
-Quero Menininha seu Ló, só
Menininha é meu querer o meu xodó...
Ele procurava, perguntava por
ela, mas ninguém sabia dizer quase nada, até que um dia lá pelas beiras da
tarde, no tempo que o sol já quase não arde, Preto encaminhou para uma parte da
praia que era deserta, uma restinga, um restinho de mar, de conchas e areias
brancas, quase ninguém anda por lá, pois dizem que tem coisa estranha, algo de
assombrado até, aparece peixe por lá peixe de três nadadeiras, dizem até que
peixe de pé, volta e meia aparece serpente, colorida, monocromata e até
jacaré...
O que Preto viu foi a tal
Menininha, nuazinha em pelo, deitada na areia, aparando os últimos raios de
sol, com seus seios durinhos, redondinhos rosadinhos, sentiu vontade de
tocá-los, mordiscá-los, suga-los lambe-los, tudo junto e ao mesmo tempo...
Preto começou a crescer onde mais
sabia, ao vê-la virar-se, deixando a mostra seus glúteos fartos e fortes, então
ele tocou-se, latejou, cresceu ainda mais, ficou louco voraz, afoito...
Menininha estava meio tonta, por
causa do mar e da aguardente com quem tinha passado a tarde, quando notou que
estava sendo olhada, tentou levantar e cobrir-se, mas não encontrou nada, o
vento carregou para longe sua roupa e a sua bolsa não alcançava.
Percebendo o aperreio da menina,
Preto se compadeceu, guardou o seu membro, agora quase desfalecido, correu a
trás do vestido que o vento levava pra junto do mar.
Levo-o até Menininha que já
começava a se desesperar, envolveu-a entre vestido e abraços, seu corpo ofertou
para amparar.
Ela muito agradecida, pediu
desculpas e chorou, até hoje não se sabe ao certo, se foi por medo ou se já era
amor.
O que até hoje se fala pelos
rastros daquela cidade, é que parecia terremoto, maremoto, algo de nuclear, os
dois caminharam juntos para a pequena pousada e foi tão grande a suada, eram
tantos os ouvidos na parede, era sussurro era sede, eram garras na carne, era
amor, paixão, coisa que arde, coisa que nasce não se sabe o porquê e depois não
sabe morrer, aconteça o que tiver de acontecer.
Preto e Menininha, não se
apartavam mais de jeito algum, fuderam e fundiram-se, transformaram-se em um
só, um ser maravilhado e maravilhoso descendo a pé pelas mesmas ladeiras,
sorrindo jocoso como nunca se vil, deixando todo o povo com água na boca, dizem
que essa história se passou no Brasil, quem viu, viu... Quem não viu sonha e
deseja é coisa de luz e sentimento, coisa que ninguém sabe explicar.
Janaina Cruz