sexta-feira, 30 de outubro de 2015


Era pelo avesso que mais gostavas das coisas.
Arrancavas as asas das formigas, pois sabias que ia chover, sempre sabias!
A chuva tornava mais linda a flor de urucum, e com ela tu pintavas os cabelos e os lábios, dizendo-me entre sorrisos que não era pra temer nada...
O meu silêncio permanecia, um silêncio de estátuas, de mortos, o som vital que entrava pelos cômodos da casa vinha de outros lugares, sirenes e vozes desconhecidas...eu me distraia enquanto injetavas em mim os teus venenos, entravas em mim, em minha corrente sanguínea, desmistificando os meus limites, virando a minha alma pelo avesso, meus silêncios, meus medos...
Instalou-se em meus lugares escuros e nebulosos...
Eu posso te ouvir...
Sim, posso te ouvir...
Eu ouço a chuva...
Janaina Cruz
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