Indócil sentir circundando pela
pele, através dos
Sentidos quase esquecidos de tão
extasiados
A sensação de ardo lembrava-lhe
Toneladas de vida entregues pelo
compasso dos móveis
Pelo preço das roupas esquecidas
dentro do armário,
E os sapatos que nunca lhe
serviam...
Havia a incomensurável vontade de
pular pela janela
De sentir a solidez do chão onde
passavam tantos rostos frios e desconhecidos.
Tangia aquela sensação de filme hollywoodiano
Mas estava triste, triste e
excitado.
O tempo lhe consumia
veementemente.
Aquelas curvas, curvas
perigosamente femininas,
As pontas dos dedos nos seios
pálidos, cálidos,
A ponta do dedo no sexo
entumecido.
O álcool já não lhe supria as
necessidades
Nem a imaginação
O olfato, o paladar a audição...
Pertenciam a ela.
Era dela aquele coração
Aquelas roupas no armário
Os sapatos que não lhe cabiam
O amor que emanava da posição dos
móveis
Da posição do corpo na hora de
amar
Na hora de deitar.
Na hora de sentir solidão...
Em seu lugar ficaram o ópio, as
putas, as contas para pagar.
Em seu lugar nasceram flores,
E elas cheiravam a morte.
Janaina Cruz