sexta-feira, 30 de março de 2012

Inquisições


Que gosto em fim terá?
Quando não for mais bela ao teu olhar?
Teu beijo minha tez, não mais umidificar?

Que gosto em fim terá?
Conselhos sábios dos quais nem lembro mais?
E a doçura do meu seio, der lugar ao sal e, o silêncio for canção primordial?

Que gosto em fim terá?
A vertigem do que fomos?
O sorriso e os sonhos?
As nossas solidões?

A verdade devorando a pele
Antes sol, agora neve
E o desejo sexual?

Tempo, um véu ciumento
Criando abismos entre o casal
Roubando o que era lindo
Tornando tudo banal.

Jana Cruz

terça-feira, 20 de março de 2012

Voz




Ainda avisto a ultima luminosidade do dia, o sol debruçado sob o cume das serras azuis, desaparecendo lentamente.
Estou tendo que estudar matemática, mas ela sempre me subtrai, como se já não bastassem os problemas sem solução , e o X da questão, está sempre em mãos alheias.
Sigo pela rua, onde há um jardim cheio de Dálias, que estão tão livres, alvoroçadas pelo vento, e  a dona do jardim sempre a fitar-me pela janela, parecendo adivinhar o meu desejo por uma delas, se invisível parecesse.
Nos postes acendem-se luzes cambaleantes ou seriam meus instintos iludidos? Numa casa está tocando uma canção breve, uma voz morna, e eu começo a pensar na minha voz...
Nunca havia pensado nisso, será se os outros gostam da minha voz?
Ah, mas nos meus pensamento canto igualzinho a Elis.
Acho graça de minha bobagem, eu não consigo me calar, sei que minha voz está sempre ecoando pela casa. Sou igual a passarinho, só sei falar cantando, gorjeando uma frase qualquer...
Quem sabe a minha voz não deseja abraça-lo, assim como o vermelho se faz toda vez que o sol abraça a minha varanda?
Estou sonhando muda, imaginado na contra luz de uma segunda- feira de muito calor.

Jana Cruz



domingo, 18 de março de 2012

Alá Bukowski

Eu e Bukowski

O que se precisa mais, é de uma alma
Uma alma carregada de histórias
Com certas virtudes e muita inteligência.
É preciso também não haver conformação 
Em ser apenas um monte de carne e osso
E mente vaga.
O fato é que a vida urge e, há tantas coisas mais valiosas
Que esse batom vermelho demais e, essa roupa cara
Que sustenta o teu ego. 
As lixeiras da cidade estão cheias de ratos e boas intenções
Talvez as melhores intenções, estejam lá misturadas aos 
Papeis rasgados e o leite derramado.
Os hospícios astrais estão cheios de poetas
E prostitutas com sorrisos abissais. 
Existem teias armadas com espelhos
Onde está presa toda juventude do teu rosto
Ao mirar-te, serás devorado pela víbora.
Por isso é preciso ter alma
Também fome de conhecimento
Coragem em suas digitais.
A morte sempre se avizinha
Qualquer hora será hora de partir
Quantas histórias irás leva contigo?
É preciso ter alma, uma alma orgásmica.

Jana Cruz

sexta-feira, 16 de março de 2012

Calopteryx splendens


Sensitivamente já percebia a musicalidade de tua pele,
Talvez fosse isso que me humanizasse,
Confesso que sem perceber sentia falta do futuro,
E sofria como numa leitura que precisa ser interrompida.

Nas palmas das mãos, nunca consegui ler as linhas
De noite na janela, imaginava as pedras na lua,
O gozo e a ardência das estrelas principiantes.

Tua música tocando ao longe, 
Enquanto eu dormia em camas frias
O amor reverberava
Até nas coisas não ditas

Queria-te em Kama Sutra
Eu não sou santa,
Eu não sou pouca.

Jana Cruz

terça-feira, 13 de março de 2012

sábado, 10 de março de 2012

O construtor de escadas


Vivia de cigarros, um março e meio por noite
Enamorado de estrelas baixas, que vagavam em seu quintal
Insetos incansáveis lhes zumbiam ao ouvido.
Já fazia muito tempo que odiava a humanidade...
-São todos tão baratos, inclusive eu.
Neglicenciar sua família agora era trivial.
 O tempo lhe ensinou a ser canhestro e desconfiado.
Amou a muitas mulheres em disformes vestidos baratos.
Murmurou que era lenda esse tal de amor.
Sentimento que lhe oprimia a respiração
Dando-lhes pontadas no estomago.
Toda vez que amou alguém sentiu-se um estúpido!
Tudo não passava de um vexame.
Não havia alegria em seu rosto fraco e lupino.
No ócio do amor, aprendeu a construir escadas:
Pequenas, grandes, escuras, baratas...
Como se tentasse assim diminuir a sua pequenez.
Escadas domingueiras, essas tinham um sabor de perdão.
Gostava de faze-las com a luz da lua caindo sobre o seu corpo
No silencio crepuscular da solidão.
Sua vida já não mais reverberava,
Esfomeado e esquálido desejou subir ao céu
Logo parou:
-Estúpidas escadas desprezam-me nesse frio pálido!
Tomado por uma espécie de raiva impotente
Gritou! Mas sua voz enfraquecia a medida que gritava.
Não ousou mais distinguir realidades
Sonolento deitou-se ao chão abraçou a grande escada,
Fechou os olhos e dormiu...

Janaina Cruz

quinta-feira, 8 de março de 2012

Aos seres que amamos.


 Conversa facebookeana, entre Jana Cruz e Aninha Zocchio
Sobre os nossos seres amados e sortudos... rs


Isso é amor

Os nossos amores  são motivo de poesia
Por isso o amor é tão profundo...
O amor é um vaga-lume em nossos olhos...
Sem eles somos raros-lumes...
Seríamos como "cegos, tateando estrelas distraídas..."
Tateando os pés em nuvens espalhadas pelo vento...  Precipício sem fim...
Seríamos mordidas pela indelicadeza do vento nessa queda, gritaríamos palavras de vidro...
Sem o nosso amado, seriamos feridas por raios da sua ausência, trovões absurdamente raivosos e ensurdecedores no peito. Sim, seria o nosso coração pulsando alto, dissipando por fim, como trovões ao longe quando caminham no céu...
Pela falta deles, choraríamos e enxeríamos os charcos de nossas maiores escuridões... A solidão nos arranharia, nos morderia, nos mataria...
Não restaria nada de nós... Nem as lembranças,  já que morreríamos para eles... Só nos olhariam ao longe, quando decidissem sentar ao meio fio e enfim para quem sabe espiar uma estrela pequenina,  mignon,  que cabia na palma das mãos dos nossos amados.
Mesmo pequeninas, deixaríamos nas palmas de suas mãos um brilho fascinante, cegaríamos qualquer sol intruso e incongruente... Já somos engalfinhadas aos desejos, vontade e amore deles...
Pois ouvimos dizer que por trás de um grande homem há uma grande mulher, duvido, acho que há sim, pequeninas mulheres..
Nos desejos de nossos amores, onde suas unhas atravessam nossas peles, feito gaviões à espreita, nos tornamos unos, eles nos devoram, e sendo assim, somos partes deles!
Sendo parte dos mesmos, nos multiplicamos e fazemos multiplicar a poesia, as pessoas poesia que somos nós junto deles...

E isso se torna amor...

Jana Cruz e Aninha Zocchio



Kal J Moon me ilustrou em sua mensagem sobre o dia internacional da mulher, ele é um gênio em desenhos.
Obrigada meu amigo, admiro muito você.

terça-feira, 6 de março de 2012

Acontece


Havia no céu, um anjo tecelão, que fiava e tecia a felicidade das pessoas, do sorriso de cada uma delas ele criava fibras, com a ajuda do bicho da seda, na roca, criava destinos. Durante milénios esse fora o seu destino, seus dedos estavam calejados, as cores feriam-lhe a vista.
Agora ele queria sentir, o que sentiam todos os que ele tecia a felicidade, ele queria sentir frio, calor, queria passar horas a vislumbrar o mar, queria sem pressa curtir a liberdade das aves perdidas na imensidão do azul, vendo o mover da vida de todas as pessoas.
Em um dado momento sentiu a paz no olhar de uma garota que amava flores, uma garota de uma espaçonave de orvalhos em cio.
Queria dar-lhe todos os sorrisos, sorrisos de muitas texturas e muitas cores e, lembrou-se de ter quebrado a roca, quando a agulha do desejo espetou-lhe o dedo... Magoou-se, lagrimejou milhões de cristais coloridos que caiam escondendo-se nas sombras do cosmos.
Na urgencia tentou recuperá-los, mas um deles provocou-lhe profundo corte, sangrou quente e palidamente e, ali ficou a esperar que tudo cessasse. Foi então que reparou que onde o sangue caia desenhava o rosto daquela garota...
Ele sorriu, sorria de verdade pela primeira vez, não mais timidamente, não mais sentindo-se profano, sorriu um sorriso de vida.
E a vida passou a fazer morada nele, uma vida humana, fiada pelo olhar de uma mortal.

Janaina Cruz
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